michele contel ✷

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08.12.23 NOW

Acho que tenho trauma de wishlist?

09h55: já vivemos uma vida. Ter criança em casa é acordar às 5h30 e realmente viver uma vida até às 9h, quando a criança em questão está desfrutando do seu delicioso primeiro cochilo do dia. Esse é o horário em que começo a trabalhar, geralmente enquanto tomo meu segundo café do dia e belisco alguma coisa.

Todos os dias eu me pergunto como é que mães solo conseguem. Aqui em casa, principalmente nesses tempos em Floripa, João e eu dividimos o tempo de um jeito assim, cronometrado, afinal, os dois precisam trabalhar e a filha é dos dois. Se eu dou o almoço, ele é quem cozinha. Se eu dou banho, ele é quem troca e assim por diante. Ainda assim, é muito difícil e não vejo a hora dela começar na escolinha, ano que vem.

11h23: ontem à noite eu estava fazendo a minha wishlist de fim de ano e ia publicar aqui, mas simplesmente não consegui. Ela está feita, com todos os links e mais, mas eu não consigo publicar porque, veja só, eu tenho medo das pessoas comprarem as coisas que eu quero. Calma, existe um motivo minimamente plausível pra isso.

Quando eu era adolescente, eu era bem pobre. Não preciso dar exemplos, mas posso resumir assim. Porém, eu sempre fui da internet e sempre aspirei muitas coisas, inclusive materiais. Logo, no auge dos delicious, we heart it e etc da vida, eu sempre tive umas wishlists meio impossíveis, onde colocava uma bolsinha da Chanel aqui, um gloss da Victoria’s Secret ali (nessa minha época, um gloss da VS era tão impossível quanto uma bolsa da Chanel, então achava realmente ok colocá-los na mesma categoria). Mas nem só de artigos delusionais minha lista era composta, ali eu também colocava umas coisas mais possíveis para eu “tentar comprar durante o ano”, então colocava um dupe do Snob, só que da NYX, uma Melissa da Vivienne Westwood, uma paleta de 120 cores de sombras, uma satchel bag (não da Cambridge, pq né), etc. Eu sempre compartilhava essa lista no Twitter e minhas amigas, com mais $$ que eu, acabavam compravando alguns dos itens e eu ficava arrasada porque era tipo a vida me mostrando que todo mundo podia ter facilmente as coisas que para mim eram muito difíceis.

Enfim, achei que tivesse superado tudo isso quando comecei a comprar as coisas que eu queria com mais facilidade, mas ao fazer essa minha lista ontem, fui tomada por esse medo extremamente irracional, mas que está em um lugar de [ainda] muita dor. No fundo, ainda carregamos os traumas de outrora, principalmente aqueles que não foram realmente curados. Em todo o caso, vou levar pra terapia.

11h40: Preciso terminar minha newsletter da semana. A ideia era enviar ainda hoje e o rascunho ainda está ridículo.

E sim, eu vou publicar minha wishlist. A Michele de 15 anos precisa aprender que os desejos de consumo do mundo não giram em torno dela. E que talvez não era nem que ela tivesse um bom perfil para curadoria, mas na verdade, só quisesse o que todo mundo queria. E que isso é meio o que chamam de agenda, tendência, zeitgeist ou o que quer que seja.

Recado para a Michele do passado:
No final, não somos tão autênticas e interessantes como pensamos. E isso não é tão ruim como você pensa.

19h37: tive um momento lindo lindo lindo com a Maria, enquanto tentava fazê-la dormir. estou escrevendo para não esquecê-lo: estávamos deitadas na cama e ela mamava. enquanto ela mamava, ela subiu em cima de mim e ficou com o rosto muito perto do meu. eu dei uma cheirada bem forte no rostinho dela e disse “creeeedo, que bafinho de onça!” e dei risada. ela gargalhou da minha risada e entendeu o que aconteceu, então, começou a abrir a boca e colocar no meu nariz, pra eu reclamar do cheirinho e gargalharmos. juro, ficamos nessa uns 20 minutos, só rindo alto, rolando pela cama em uma comunicação não-verbal mas extremamente carinhosa. eu entendo quem não quer ter filhos, mas não existe nada melhor na vida do que tê-los. 20 minutos que vale todo o perrengue.

NOTAS SOLTAS:

  • comecei a ver BEEF, finalmente, com o João. tínhamos começado quando a Maria Clara era pequenininha, mas a vida era muito difícil nessa época. voltamos agora, mas ainda não terminamos o primeiro ep.
  • comecei a ler a Tetralogia Napolitana. chegar nas primeiras 50 páginas não foi assim tão fácil (levando em consideração que eu devorei A Filha Perdida), mas é uma leitura deliciosa mesmo. já estou nos 20% do livro e já entendo o hype.
  • baixei um app fofinho e brega que manda perguntas diárias sobre o relacionamento e obviamente obriguei o meu digníssimo a baixar a responder também. “puta ideia, os cara sabem que as mina vão obrigar os cara e nessa eles já têm 2 cadastros de uma vez“, surpreendeu-se.

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